Modéstia nunca foi meu forte...

TDAH/DDA. O CÉREBRO CRIATIVO

por Sônia Rodrigues.

A mais fantástica constatação que a tecnologia do século XX permitiu aos médicos foi a certeza de que os cérebros são diferentes.

O estômago de todos mundo digere, os pulmões respiram, já quantos aos cérebros, cada um faz o que pode.

O cérebro "padrão" seleciona cerca de sete estímulos por vez, entre as centenas de imagens, sons e percepções recebidas, para compor o pensamento.
Esta seleção de sete estímulos torna as pessoas comuns objetivas e previsíveis.

No entanto, dez por cento da população é geneticamente premiada com um cérebro diferente, sem a capacidade de filtrar as informações recebidas. Estas pessoas têm a atenção direcionada a centenas de estímulos simultaneamente; são hiperreativas, impulsivas e distraídas, para começar a conversa. O cérebro DDA - distúrbio da atenção - já recebeu vários rótulos: deficiência cerebral mínima, crise hipercinética, ausência de controle moral e outros.

Quando criança, o indivíduo DDA troca letras, derruba coisas, acha a escola um tédio, é desorganizado e ouve mais "não pode" e críticas do que seus
colegas. Estas pessoas crescem com a sensação de serem indesejadas e incompreendidas.

O cérebro DDA só se  concentra quando a atenção é captada, ele necessita de um interesse espontâneo, genuíno, para se ater a alguma coisa.  mente DDA não consegue se obrigar por muito tempo a prestar atenção em alguma coisa que não seja do seu interesse. O DDA precisa de desafios, inovações e elogios em penca. Uma vez captada a atenção surge outra característica notável: o hiperfoco, uma concentração concentrada, que só pode ser fabricada nem induzida. É expontânea e impressionante. Uma capacidade acima do normal de desenvolver um pensamento. Criar, resolver, inovar.

Um notável cérebro DDA, Eisntein, péssimo aluno,focou vinte anos a questão do que acontece com os objetos à velocidade da luz. Outro sonhador, Gran Bell, levou anos para resolver como falar com alguém do outro lado do planeta. E que dizer do maluco que resolveu domesticar a eletricidade, a mortal energia dos raios? Convenhamos, as pessoas sensatas não se ocupam com estas tolices. Sorte da humanidade que haja cérebros DDA, pobres sofredores incompreendidos! Para eles, o mundo comum é tão pobre...

Quando amam, é tudo ou nada. Há um excesso de emoção e a tendência de idealizar o objeto amado. Verdade é que alguns DDA se apaixonam por suas
carreiras ou pela ciência. Artistas são DDA que sublimam a emoção em músicas, romances, poesias...

De Fernando Pessoa, cuja vida e obra encaixam-se no conceito de DDA, deixo a palavra com a psiquiatra Ana Beatriz da Silva, autora do livro Mentes
Inquietas:

Fernando Pessoa sinaliza em sua obra traços de uma mente com funcionamento DDA: inquietação, contradição, desorganização, devaneios, hiperconcentração, criatividade, intolerância ao tédio, dificuldades em seguir regras. Criou vários "eus", os famosos heterônimos, para descrever o mundo sob diversos ângulos.

Os desencontros amorosos estão presentes:

"Cobre-me um frio de janeiro/ no junho do meu carinho."

A baixa auto-estima aparece de maneira clara no poema Tabacaria:

"Não sou nada / Nunca serei nada / Não posso querer ser nada / À parte isso/ Tenho em mim todos os sonhos do mundo."

E, certamente, Fernando Pessoa nos fornece a receita do sucesso, nas palavras de Ricardo Reis:

"Para ser grande,sê inteiro/ nada teu exagera ou exclui/ Sê todo em cada coisa/ Põe quanto és no mínimo que fazes/ Assim em cada lago a lua toda
brilha, porque alto vive."

Pois é preciso agir ou o DDA corre o risco de passar pela vida anonimamente a observar estrelas, deixando atrás de si um rastro de roupas esparramadas,
gavetas abertas e corações partidos.

Einstein escreveu sua teoria da relatividade, publicou -a, fez conferências a respeito e tornou-se um criador. É verdade que a maioria dos mortais não entendeu nada, mas,  já que o homem falou tanto, acharam melhor retirá-lo da Alemanha e dar-lhe um prêmio Nobel, por via das dúvidas.

Bem, reconhecimento — em vida — é ótimo!

Este é o desafio do cérebro DDA: ultrapassar a fase do sonhador e tomar atitudes práticas; sair do mundo das idéias e lançar fachos de luz sobre os habitantes da caverna.
 
21/10/2010 09:59 - Aline
Olá Sonia, Descobri meu TDAH/DDA aos 23 anos (tenho 24) quando me vi numa crise caótica de prioridades, preferências, escolhas. Depressão. O complicado, é q eu sempre fui, e ainda sou uma pessoa muito feliz. Tenho tudo o que importa na vida, e consigo perceber isso no agora, Diferente das pessoas que só costumam perceber depois q passa. Na mesma proporção dessa felicidade eu estava perdida e deprimida, com a intensidade que só um DDA entende. Jamais me imaginei com depressão. Meu DDA foi a cauda da depressão, e depois foi o que tornou difícil diagnostica-la. Meu comportamento alegre "escondia" a depressão. Desde que descobri meu TDAH que sou infinitamente mais feliz. É difíciil até de explicar pra quem não sente, o alívio que é descobrir que não é o seu carater, não é falta de vergonha na cara, não por mal....aquelas dificuldades, são na verdade, deficiências... não é por "frescura" que eu não consigo fazer algumas coisas simples.
21/10/2010 10:26 - Aline
continuando... Desde então eu sou fascinada com o funcionamento do cérebro do DDA. Pesquisei e fucei tudo que encontrei nos meios de comunicação, já pulei até para as discussões mais acadêmicas do caso. E fico um tanto quanto indignada. Sem querer ser pretenciosa, já sendo, eu não sei como podem tratar isso como doença... é um dom. Eu interpreto como uma compensação, como tudo na vida. O preço que pagamos pelas nossas faculdades cerebrais mais avançadas, é a dificuldade com outras coisas que pro resto do mundo é simples. Estamos sendo colocados agora, como vítimas das circunstâncias. Com toda certeza, fomos e somos infinitamente injustiçados. Mas agora que o TDAH é reconhecido como transtorno, somos os "doentes, pobrezinhos..." Somos mais inteligentes que o normal, mais capazes que o normal, mas criativos que o normal, mais adaptáveis que o normal, mais humanos que o normal e principalmente, estamos dispostos a deixar e fazer o mundo andar pra frente e não ficar preso à paradigmas. Nessa minha busca pela identidade TDAH/DDA, até hoje, O SEU BLOG FOI O ÚNICO MATERIAL QUE EU ENCONTREI, ONDE O TDAH NÃO ESTÁ SENDO VISTO COMO VÍTIMA OU COMO DOENTE. Nós somos iluminados com capacidades acima da média, e como o equilibrio universal dita, temos dificuldades em outras coisas. Se não fosse assim, seriamos perfeitos e melhores que o resto do mundo. Acho que o grande medo é bem esse. Ninguém está disposto ou inclinado a super-desenvolver um cerebro TDAH. Preferem nos desacelerar com remédios e terapias para que a gente se adapte à "lerdeza" do mundo. Sendo assim, vamos parar de fabricar Ferraris, pois nenhum código de transito permite que um carro ande a 300KM/h. Me coloco a disposição para quem tiver algum orgulho do seu TDAH, para trocarmos algumas idéias desorganizadas e criativas. heheheh meu email: aline.pires.s@hotmail.com Um abraço e MUITO obrigada pela sua justiça.